sábado, 21 de setembro de 2013

Mesmo sem patrocínio, Brasil vence a Copa do Mundo dos Sem-Teto

Jovem de 19 anos, morador do Morro do Cantagalo, foi eleito o melhor jogador do torneio
Vinícius (à esquerda) e Darlan, os cariocas da equipe campeã da
 Homeless Cup Marcelo Carnaval / Agência O Globo
RIO — Acostumado a driblar as adversidades no Morro do Cantagalo, em Ipanema, onde mora com quatro irmãos, Darlan Martins, de 19 anos, deu um olé na falta de patrocínio na Homeless World Cup 2013 — a Copa do Mundo dos Sem-Teto, criada há dez anos para chamar atenção para as precárias condições de moradia no mundo. Na edição deste ano, realizada em Poznan, na Polônia, de 11 a 18 de agosto, o Brasil foi o campeão invicto, mesmo com uma equipe reduzida. Darlan ganhou a Bola de Ouro de melhor jogador, superando quase 400 participantes de 50 países.
O jovem foi selecionado no Circuito Brasileiro de Futebol Social, realizado anualmente em São Roque, interior de São Paulo. A equipe deveria ter, no mínimo, oito atletas — na Homeless Cup, os times têm três jogadores e um goleiro —, mas a Eletrobras, patrocinadora desde 2011, não pôde ajudar este ano.
— A Eletrobras nos apoiava com base na Lei de Incentivo ao Esporte. O projeto foi submetido ao Ministério do Esporte, mas não houve tempo para a aprovação. Eu e amigos nos cotizamos e conseguimos dinheiro para comprar passagens para cinco pessoas. Não pudemos levar a equipe toda. Nós nos superamos e conseguimos vencer as 13 partidas — conta o técnico da equipe, Flávio Fernandes, o Pupo.
A delegação contrastava com a mexicana, que perdeu a final para o Brasil. O time do México, patrocinado pela gigante das telecomunicações Telmex (do bilionário Carlos Slim), levou à Polônia 20 atletas e 20 convidados.
Outro campeão carioca foi o goleiro Vinícius Araújo, de 19 anos, morador da Rocinha. A final foi para os pênaltis, após o empate de 3 x 3. Vinícius defendeu a primeira cobrança, e Darlan mandou a bola para a rede. O goleiro sonha em jogar pelo Flamengo e pelo Brasil em 2018 ou 2022. Ele e Darlan se apegaram tanto ao sonho de ganhar a vida com o futebol que deixaram os estudos. Mas Darlan admite que está difícil conseguir vaga em um time profissional:
— Tenho fé. Sei que sou talentoso. Já joguei no Serra Macaense aos 16 anos. Também joguei no Democrata, de Governador Valadares. Fui do time de base do Fluminense. Mas, quando me chamaram para renovar o contrato, estiquei na balada e perdi a hora.
A equipe brasileira tinha dois paulistas: Douglas Batista, do Jardim Ângela, e Robson Martins, do Campo Limpo. A Copa dos Sem-Teto é disputada por pessoas de regiões violentas e precárias. O time da África do Sul era de moradores de contêineres. Áustria e Itália levaram imigrantes. Já os anfitriões jogaram com dependentes químicos em recuperação.
 
Fonte: O Globo ( Por Gustavo Goulart)

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